domingo, 6 de abril de 2008

O Mito Pelo Mundo: Irlanda


A Irlanda, assim como seu vizinho, o Reino Unido, não tem uma grande tradição Vampírica, apesar de sua mitologia conter numerosas histórias de seres sobrenaturais e de contatos entre os VIVOS e os mortos na forma de fantasmas e mortos retornados. Montague Summers falou de um vampiro irlandês, o dearg-dul, mas forneceu poucas informações sobre ele. Os folcloristas irlandeses não encontraram qualquer menção a esse vampiro no folclore que compilaram. A lenda mais famosa de vampiro era "The Blood-Drawing Ghost", coligida e publicada por Jeremiah Curtin em 1882. Relatava a história de uma jovem de nome Kate, uma de três mulheres com quem um homem do condado de Cork pensava em se casar. Para testar as mulheres, colocou sua bengala na entrada do túmulo de uma pessoa recém-falecida e desafiou as mulheres a buscá-la. Somente Kate aceitou o desafio.

Chegando ao túmulo, ela encontrou o morto, que a forçou a levá-lo para a cidade. Em seguida, ele sugou o sangue de três rapazes, que posteriormente morreram. Misturou o sangue com farinha de aveia que forçara Kate a preparar. Enquanto ele comia, Kate secretamente escondeu sua parte. Sem saber que ela não tinha comido, o "vampiro" lhe confidenciou que a mistura de sangue com farinha de aveia traria os rapazes de volta à vida. Assim que estavam retornando ao seu túmulo, o "vampiro" contou a Kate sobre uma fortuna em ouro que podia ser encontrada num campo das redondezas.

Os três rapazes foram encontrados no dia seguinte Kate, então, fez um trato com os pais deles. Ofereceu-se para trazê-los de volta se pudesse se casar com o mais velho e se as terras onde sabia que o ouro estava escondido fossem passadas em nome dela. De posse da escritura, pegou a farinha de aveia que tinha escondido e colocou um pouco na boca de cada um dos rapazes. Todos eles se recuperaram do ataque do vampiro. Com seu futuro marido, ela desenterrou o ouro e o rico casal viveu por muitos anos, passando a fortuna para seus filhos.

Dudley Wriglnt, no livro Vampres and Vampirism, citou uma vampira que atraía as pessoas com sua beleza. Morava supostamente no cemitério de Waterford, perto de Strongbow's Tower. Summers conduziu uma de suas raras investigações pessoais e descobriu que não havia um lugar chamado Strongbow's Tower perto de Waterford. Sugeriu que Wright tinha se enganado, substituindo-a por uma outra estrutura, Reginald's Tower, mas ao conferir os dados com as autoridades sobre as tradições irlandesas, foi-lhe dito que não havia nenhuma lenda de vampiro em Reginald's Tower. Como explicação final, Summers sugeriu que o relato de Dudley era uma versão confusa de uma história sobre a conquista anglo-saxônica de Waterford, após a qual um sapo (que não é nativo da Irlanda) foi encontrado e enterrado em Reginald's Tower.

Em 1925, R. S. Breene relatou outra história irlandesa acerca de um padre que tinha morrido e fora enterrado de forma correta. Após retornarem do cemitério, os pranteadores se encontraram com um padre, na estrada. e ficaram perturbados ao descobrir que se tratava da pessoa que tinham acabado de enterrar. A única diferença é que este tinha rosto pálido, olhos brilhantes e esbugalhados e dentes brancos bem pronunciados. Dirigiram-se imediatamente à fazenda da mãe do padre. Encontraram-na deitada no chão. Parece que logo após o enterro ela ouviu alguém batendo na porta. Ao olhar para fora, viu seu filho. Notou a face pálida e os dentes pronunciados. O medo se apossou dela e, em vez de deixá-lo entrar, desmaiou.

O VAMPIRO LITERÁRIO: A Irlanda foi o berço de dois dos mais famosos. autores de obras sobre vampiros, Skeridan Le Fanu, que escreveu o conto "Carmilla", e Bram Stoker, autor de Drácula. Le Panu se inspirou em sua terra natal para sua primeira história, mas ambos os autores tinham se transferido para a Inglaterra quando escreveram suas histórias mais famosas, ambientadas na Europa continental.

O vampiro apareceu raramente na literatura irlandesa. Uma aparição que conquistou relativa fama ocorreu na obra de James Joyce, Ulisses (1922), que utiliza a fantasia do vampiro, logo no inicio do romance, quando Stephen, o personagem principal, fala da lua beijando o mar:

"Ela, a lua, vem, pálido vampiro, olhos tempestuosos, velas de morcego sangrando o mar, boca a boca."

O autor faz, mais adiante referência à "... potência do vampiro, boca a boca". Joyce injetou o vampiro em suas complexas reflexões da divindade, criatividade e sexualidade. Em outra referência, Stephen fala do envolvimento do vampiro com mulheres chiques. Finalmente, Stephen identifica Deus como "Negra pantera vampira". Joyee parecia estar se concentrando numa imagem do Pai criador como um vampiro que atacava suas vítimas - mulheres virgens. A inserção da virgem ajudou Joyce a expressar a opinião de que a criação era também um processo inerentemente destrutivo. Em todo caso, diversas e breves referências ao vampiro proporcionaram aos críticos literários de Joyce elementos para um acirrado debate.

A tradição das crenças irlandesas sobre o vampiro é celebrada hoje na obra da The Bram Stoker Society e um grupo associado, The Bram Stoker Club. A sociedade tenta promover o status dos trabalhos de Stoker, especialmente Drácula, e chamar a atenção para a literatura gótica irlandesa em geral. A entidade patrocina cursos de verão anuais.